25/03/2009

LÁGRIMAS SÃO MENSAGENS

NINO BELLIENY

Hoje,pela primeira vez ,depois de tantos anos juntos,ele a viu chorando e imediatamente sentiu o coração fatiado em dezenas de pedaços.Compreendeu a falta de dinheiro como a ausência de óleo no motor de um carro.O relacionamento sendo fundido dia após noite pelos problemas gerados pelas contas a pagar. As viagens canceladas,os finais de semana dentro de casa diante da televisão imutável e as paredes brancas impassíveis.Hoje,ela disse estar gripada para disfarçar os olhos vermelhos,ela que é tão linda sorrindo ,tão linda zangada,parece agora como uma flor desidratada.Ele sentiu o a faca afiada retalhando o coração,o peito aflito por saber o risco corrente ,a dor por não poder nada fazer.Lembrou de algo bom que poderia acontecer durante a semana ,mas,com receio de notícias positivas sumirem com o vento assim que forem ditas,preferiu calar-se.Em cada respiração,a sensação de perda iminente,do afastamento homeopático da mulher amada ,sempre tão paciente e colaboradora.Porém,naquele instante ,sentiu o gosto amargo do imponderável,a alucinação da derrota sentimental a cavalgar a auto-estima dominando-a e fazendo-a pequena,inutilmente pequena.Eles tinham passado por cenas de ciúme e desavenças.Crises vinham e iam como navios na linha do horizonte.Hoje,no entanto,o que ele viu foi muito mais do que as lágrimas da amada mulher.Viu como seriam longos os dias e noites sem ela,as madrugadas de fogo e solidão,o amor perdendo aos poucos a partida do insaciável campeonato da sobrevivência.E chorou também o silêncio da despedida forçada de alguém que parte querendo ficar sem ter nenhuma certeza de que um dia poderá voltar.

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