02/05/2009

O MEDO DO QUE PODE DAR CERTO

Nino Bellieny

Um tipo de medo parece se alastrar contaminando quase todo o tipo de gente deixando de fora só os muito seguros de si. Mas, até mesmo estes podem cair de vez em quando nesta armadilha bem tramada pelo egoísmo entre outros sentimentos menos nobres.
É o medo do que pode dar certo... ele atinge o alvo de várias formas, mas, é principalmente no relacionamento amoroso onde causa maiores estragos. Há quem deseje mudar de vida e não tem coragem de abandonar a velha casca confortável... quem queira sair de casa dos pais e tema o desconhecido. Quem pense em mudar de emprego, de cidade e até de país, mas, receia a única coisa exata na vida: a mudança.
Quanto ao amor, este sim, muitos são os que lhe desejam ardentemente e quando encontram, ainda que de vislumbre, tremem diante do que procuraram por toda uma vida.
Sentem o absurdo medo do que tanto querem e finalmente foi encontrado. Porque com ele, virá a grande transformação. Com o sonhado amor, chegarão os dias de sol, mas, também os de tempestade e a tranqüila casa da solidão conhecerá novos moradores. Sonhar com o amor não traz responsabilidade. Já cultivá-lo, requer trato e paciência. Compromisso.
Medo. De ter e depois perder. De ser finalmente compreendido e respeitado por uma única pessoa que ira até o fim do Universo para conseguir aquilo que pode significar felicidade.
Medo de perder a liberdade, de amar demais e se descobrir não tanto amado. De sair da rotina e ter de trocar o previsível pelo imponderável.
Medo. De não poder mais experimentar outras sensações e emoções com novidades; de não flertar com prováveis conquistas; afinal, é mais fácil largar e pegar, pegar e largar o novo, antes que haja o conhecimento mútuo que alimenta o amor e os ”problemas “ que são dados como brinde.
Prefere-se a excitação do desconhecido ao aconchego do estável. Negociando-se seres humanos no mercado livre da carne e seus prazeres voláteis.
Sendo mais fácil desculpar-se do que não deu certo, afinal, tinha mesmo tudo para dar errado, valendo, então, pela aventura...
Medo. De dizer que ama, de exaltar as qualidades da pessoa amada e ela, entediada e segura, não dar a mínima atenção preferindo a sedução de quem se vende mais caro e se revela tão barato e vulgar depois.
Medo. De amar exclusivamente à uma única e tecer o destino com o dela numa rede sem fim jogada sobre o mar da vida.
Por medo, a ilusão dança em festas e momentos, em sorrisos e conquistas frágeis onde ninguém expõe o real de si mesmo, vendendo um produto bem acabado, perfeito, mas imaginário, fabricado sob medida para o desejo do outro ... e ao amanhecer de uma noite que pode durar horas, dias e até meses, descobrir que foi mais um tempo perdido, fingindo para o mundo e para si que está tudo bem, que “a fila anda”, quando na verdade, aconteceu outra marola sem condição de movimentar sequer um barco de papel.
O medo do que pode dar certo e suas mudanças é o próprio medo de olhar-se no espelho de uma forma corajosa e se descobrir um humano que requer um outro humano para ficar completo e inteiramente livre de verdade. Não uma metade ambulante fingindo que o tempo passa devagar.

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